O mineral Cromo e a Diabetes

O mineral Cromo e a Diabetes

Por Fábio dos Reis

Todo diabético enfrenta, ocasionalmente, aqueles dias em que o controle da glicemia parece não fazer sentido – glicemia aumentando ou diminuindo muito sem motivo aparente (geralmente aumentando). E um dos primeiros pensamentos que vem à mente ao realizar sua medição habitual e constatar, por exemplo, um valor alto de glicemia é “será que não existe algum suplemento para diabéticos que eu possa tomar para ajudar a diminuir isso?”

Se pesquisarmos na Internet, vamos encontrar uma infinidade de “receitas” e remédios milagrosos para auxiliar no controle do açúcar do sangue. Mas a verdade é que não existem tais milagres – se você é diabético, deve seguir à risca seu tratamento e sua dieta, principalmente se for dependente de insulina.

Porém, algumas substâncias podem sim ter efeito benéfico no controle glicêmico. Estudos científicos apontam benefícios da suplementação com determinados compostos e elementos, como a Coenzima Q10 e o elemento Cromo, que é o alvo deste artigo aqui.

Conheço médicos que receitam suplementos do metal cromo a pacientes diabéticos (tipo 2), e também médicos que desencorajam o consumo desses suplementos. Assim, resolvi pesquisar a mais fundo a literatura existente para entender melhor o papel desse elemento no combate diário à diabetes. E logo a seguir discorro sobre o que li e descobri de interessante.

No final do artigo você encontrará as referências que usei em meus estudos, caso queira ler mais a respeito.

O elemento cromo

O metal cromo, elemento químico número 24 da tabela periódica, é um mineral traço essencial para os humanos, e aparentemente apresenta impacto na regulação da ação da insulina e, consequentemente, no metabolismo dos carboidratos. Trata-se de um fator importante para aumentar a atividade da insulina (diminuindo a resistência à insulina no corpo), sendo parte, por exemplo, de uma molécula chamada cromodulina, oligopeptídeo que auxilia esse hormônio em seu papel de regulação glicêmica.

Há duas formas de cromo: Cr(III) (trivalente) e Cr(VI) (hexavalente). O cromo trivalente é a forma essencial que necessitamos e que encontramos nos alimentos, e o cromo hexavalente é altamente tóxico, podendo causar ulceração na pele, úlceras estomacais, câncer de pulmão e outros problemas graves, tendo usos na indústria.

Suplementos de Cromo

Alguns estudos tem mostrado que pessoas com diabetes tipo 2 possuem níveis mais baixos de cromo no organismo do que pessoas não-diabéticas. Outros estudos mostram que tomar suplementos de cromo aumentam a ação metabólica da insulina, ajudando a diminuir os níveis glicêmicos (de açúcar no sangue) e também diminuem fatores de risco para doenças cardiovasculares, comuns em pessoas diabéticas.

Um dos principais compostos de cromo empregados para esse fim é o picolinato de cromo (fórmula química: C₁₈H₁₂CrN₃O₆ – abreviada como CrPic₃), que aparentemente reduz a resistência à insulina, auxiliando no tratamento de diabetes tipo 2 (além de talvez ajudar a perder peso). Pessoas com diabetes tipo 1 possivelmente também possam se beneficiar de suplementos de cromo, mas os estudos que li não comentam quase nada a respeito.

Os níveis de cromo no organismo tendem a diminuir com a idade, e o cromo não é muito bem absorvido pela dieta – de 0,4% a 2,5% do cromo ingeridos com a alimentação são absorvidos pelos intestinos. Assim, é comum a prescrição de suplementos de picolinato de cromo com 200 – 1000 μg diariamente (microgramas – mcg, não miligramas – mg), sendo esses níveis considerados seguros para o consumo. Outros suplementos existem, como o cloreto de cromo (CrCl₃), que aparentemente aumenta os níveis de glicose no sangue, mas para diabéticos apenas o picolinato parece ser efetivo.

O ácido ascórbico (vitamina C) aumenta a absorção do cromo – assim, tomar um copo de suco de laranja durante as refeições pode auxiliar nesse sentido – além da própria fruta em si ser uma boa fonte de cromo.

Existem também algumas evidências de que os suplementos de cromo ajudam a baixar os níveis de colesterol LDL (“colesterol ruim”) em pessoas que tem níveis elevados dessa lipoproteína. Alguns estudos também sugerem que o cromo ajuda a baixar os níveis de triglicérides e aumentar os níveis de colesterol HDL (“colesterol bom”).

Porém, são evidências e sugestões, mas nada totalmente comprovado e definitivo. Ainda assim, muitos médicos receitam suplementos de cromo a pacientes diabéticos, pois novos estudos vem reforçando a ideia de que essa suplementação pode ter a eficácia esperada.

Aparentemente, o cromo não tem efeito algum sobre pessoas com pré-diabetes, ou seja, não é efetivo para evitar que alguém se torne diabético.

Problemas em potencial com o cromo

De qualquer forma, não é uma boa ideia exagerar na dose: apesar de geralmente seguro, tomar uma dose elevada de suplementos de cromo (mais do que 1000 mcg/dia) por muito tempo pode levar a problemas graves no sangue, fígado e rins. O cromo se liga às proteínas do plasma sanguíneo, e se acumula principalmente no fígado, baço e nos ossos.

E, claro, mulheres grávidas ou amamentando precisam ter cuidado redobrado ao tomar qualquer tipo de suplemento, incluindo os de cromo.

E o mais importante: você SEMPRE deve consultar seu médico (preferencialmente um endocrinologista nesse caso) antes de decidir tomar qualquer medicamento ou mesmo suplementos por conta própria. SEMPRE. Mesmo os suplementos mis “inofensivos” podem interagir com medicamentos que você toma ou até mesmo com sua alimentação, além do risco de intoxicação por dosagem errada.

O exemplo clássico aqui é a própria insulina. Se o suplemento de cromo ajuda a diminuir os níveis de glicose no sangue, poderá haver interação com a insulina (se você usa insulina), provocando uma diminuição maior do que o esperado em sua glicemia, podendo resultar em uma perigosa hipoglicemia. Cuidado!

Fontes de Cromo na alimentação

A melhor forma de “suplementar” um elemento essencial é, como sempre, pela alimentação adequada. As melhores fontes de cromo incluem:

• Frutas e vegetais
• Oleaginosas (como o amendoim)
• Levedura de cerveja
• Cerveja (opa!)
• Aveia
• Fígado bovino
• Gemas de ovos

Porém, a quantidade de cromo em cada um desses alimentos pode variar muito, dependendo da composição do solo e da água no local de cultivo ou criação dos animais, além do processamento sofrido pelos alimentos antes de chegarem às nossas mesas.

O cromo pode ser eventualmente transferido aos alimentos a partir de utensílios feitos com aço inox (que possui de 10% a 18% de cromo em sua composição), como por exemplo panelas de aço usadas no preparo dos alimentos; mas essa não é, evidentemente, uma fonte adequada do mineral.

Conclusão

Diabéticos devem tomar cromo? Em resumo, parece haver bons indícios de que a suplementação com cromo (como o picolinato de cromo) pode auxiliar a insulina a realizar seu trabalho, melhorando assim o índice glicêmico do diabético. Assim, caso você deseje tentar essa abordagem converse com seu médico a respeito, que poderá lhe informar melhor (inclusive com dados de pesquisas mais recentes), e eventualmente receitar uma dose adequada do suplemento para seu caso em particular.

E com relação a mim, aparentemente não há benefícios em usar esse tipo de suplemento. Praticamente todos os estudos que indicam algum benefício do cromo para diabéticos se refere exclusivamente à diabetes tipo 2, e não à diabetes tipo 1 (dependente de insulina). Ainda assim, vou conversar com meu médico em minha próxima consulta, mas sem grandes esperanças.

Referências

• Pubmed. A scientific review: the role of chromium in insulin resistance. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15208835/
• WebMD. Chromium. https://www.webmd.com/vitamins/ai/ingredientmono-932/chromium
• Vincent. J.B. The Journal of Nutrition: The Biochemistry of Chromium https://academic.oup.com/jn/article/130/4/715/4686593. Oxford Academic.
• Diabetes.co.uk. Diabetes and Chromium. https://www.diabetes.co.uk/Diabetes-and-Chromium.html
• Emsley, J. Nature´s Building Blocks: An A-Z Guide to the Elements. 1ª Edição. 2001. Oxford University Press