O que é Hemoglobina Glicada – HbA1c
O que é Hemoglobina Glicada, ou teste de A1C
Se você é diabético, provavelmente já teve requisitado pelo médico um exame (de sangue) para testar a Hemoglobina Glicada. Mas, o que é exatamente esse exame, e o que ele mede especificamente? Como eu tive de fazê-lo, fiquei curioso e fui pesquisar do que se trata. E, logo s seguir, descrevo o que descobri em livros, artigos e conversando com meu endocrinologista.
O que é A1C
A hemoglobina glicada, também conhecida como glico-hemoglobina, HbA1c ou ainda apenas A1C (termo mais comum atualmente), é uma ferramenta de teste e avaliação da glicemia em pessoas com diabetes (ou com suspeita), empregada desde 1958, sendo atualmente uma das formas mais importantes de avaliação do controle glicêmico.
A hemoglobina é uma proteína encontrada dentro das células vermelhas do sangue (hemácias), e é responsável por carregar oxigênio para o corpo. Essas células possuem um tempo de vida de até cerca de 4 meses, e então morrem, sendo substituídas por novas células formadas no organismo.
O teste de A1C mede a taxa de ligação entre moléculas de açúcares (glicose, por exemplo) e moléculas de hemoglobina A (HbA) no sangue (mais precisamente, a um aminoácido chamado de valina, que faz parte da composição da hemoglobina). Essa ligação ocorre de forma lenta, é estável e irreversível, ou seja, uma vez estabelecida, permanece durante todo o tempo de vida das hemácias, em torno de 120 dias. A A1C reflete a média glicêmica dos últimos (em torno de) 2 a 3 meses.
Em outras palavras, o teste de hemoglobina glicada se refere à média do nível de açúcar que esteve no seu sangue durante os últimos três meses.
Como é o teste de hemoglobina glicada
Trata-se de um teste muito simples (para o paciente), consistindo em uma coleta de sangue comum em um laboratório especializado. O paciente não precisa necessariamente estar em jejum para essa coleta, porém resultados mais precisos podem ser obtidos se ele estiver sem comer há pelo menos duas horas. O teste fica pronto rapidamente, em poucos dias.
Para que serve o teste de hemoglobina glicada
Esse teste pode ser usado como valor de índice da glicemia média, como teste de diagnóstico para o diabetes (em adição a outros testes, como a glicemia de jejum), além de servir como medida do risco existente para o desenvolvimento das temidas complicações da diabetes, como problemas nos olhos, coração, rins e sistema nervoso, que podem levar á cegueira, AVC, amputação de pés ou pernas, infartos e outros.
Note que esse teste não permite saber o tipo da diabetes, caso diagnosticada. Para saber se o paciente possui diabetes tipo 1 ou diabetes tipo 2, por exemplo, são necessários outros testes, como o Anti ICA 512, entre outros).
Como exemplo de elevado risco, quando fui diagnosticado com diabetes tipo 1, o endocrinologista me pediu para realizar esse exame. E o resultado mostrou que estava com o valor da A1C em 12,7%, absurdamente elevado!
Seus valores de referência, de acordo com a SBD (Sociedade Brasileira do Diabetes), são:
- Normal: de 4,5 a 5,6%
- Pré-diabetes (risco de diabetes): de 5.7 a 6.4%
- Compatível com Diabetes: a partir de 6.5%
Pacientes com diabetes, no geral, tem como meta de controle glicêmico manter o valor da A1C em no máximo 7%, pois valores acima deste patamar, se mantidos de forma consistente, permitem o desenvolvimento da complicações crônicas da diabetes. Porém, esse valor pode mudar ligeiramente de pessoa para pessoa, sendo algo importante a se discutir com um médico especialista.
Recomenda-se que esse exame seja realizado ao menos duas vezes ao ano em pacientes diabéticos, ou mais dependendo do caso, pois ele ajuda a mensurar o risco do desenvolvimento de complicações associadas ao diabetes, como retinopatias (olhos), neuropatias (sistema nervoso) e nefropatias (rins), entre outros. É comum que seja requisitado pelo médico a realização do teste a cada três meses, caso o paciente não esteja atingindo os resultados esperados com seu tratamento.
Glicose Média Estimada – GME
É interessante notar que existe uma correlação entre o valor da hemoglobina glicada e média dos valores de glicose no sangue, e essa correlação recebe o nome de Glicose Média Estimada (GME) ou em inglês Estimated Average Glucose (eAG). Esses valores são obtidos a partir da aplicação de uma fórmula matemática sobre o valor de A1C medido, fórmula essa que se baseia em uma relação linear entre os níveis de A1C e a glicose média sanguínea. A fórmula empregada é a seguinte:
GME = 28,7 X A1C – 46,7
Com isso, podemos ter uma ideia do valor médio de glicemia no sangue de uma pessoa nos últimos três meses.
A tabela a seguir mostra alguns valores calculados de GME, em relação a valores de A1C:
A1C (%) | GME (mg/dl) |
4,0 | 68 |
4,5 | 82 |
5,0 | 97 |
5,5 | 111 |
6,0 | 126 |
6,5 | 140 |
7,0 | 154 |
7,5 | 169 |
8,0 | 183 |
8,5 | 197 |
9,0 | 212 |
9,5 | 226 |
10,0 | 240 |
10,5 | 255 |
11,0 | 269 |
11,5 | 283 |
12,0 | 298 |
12,5 | 312 |
13,0 | 326 |
13,5 | 341 |
14,0 | 355 |
Por exemplo: Ao dar entrada no hospital com cetoacidose diabética, foi realizado o teste de hemoglobina glicada em mim, e o resultado apontou o valor de 12,8%. Aplicando a fórmula acima chegaremos ao valor de glicemia média estimada de:
28.7 X 12,8 – 46.7 = 320,66
Arredondando, 321 mg/dl, um valor bastante elevado.
Não tente enganar seu médico – e a si mesmo
Um fato interessante sobre o exame de HbA1c é que ele permite descobrir se o paciente está seguindo as orientações médicas relativas a seu tratamento, pois muitas pessoas não seguem as restrições dietéticas, por exemplo, como sugerido pelo especialista. Os níveis de glicose oscilam com facilidade se o tratamento não for realizado de forma adequada, e isso deixa uma “impressão” nas células de hemoglobina do sangue, de modo que mesmo que o paciente siga suas recomendações dietéticas e medicamentosas (como não comer doces, por exemplo) nos dias que antecedem uma consulta, para que o teste no consultório pareça satisfatório, a A1C não o deixará enganar o médico – irá apresentar o acúmulo de glicose das semanas anteriores registrado.
Buscar a redução no nível médio da A1C é muito importante para evitar problemas severos, sendo que estudos demonstram que, para cada 1% de redução obtido, o risco de complicações é reduzido em:
- Amputação: 43%
- Problemas microvasculares: 37%
- Óbito relacionado ao diabetes: 21%
O que claramente é um incentivo à realização e manutenção de um tratamento adequado para o diabético.
Como abaixar o valor da hemoglobina glicada?
Abaixar o nível de A1C é algo que pode levar um certo tempo, talvez meses. Claro que isso depende de fatores como os níveis de glicose em seu sangue, tipo de atividade que você consegue realizar, e do quão bem você consegue manter sua glicemia controlada.
Alguns dos principais fatores que você pode controlar para atingir seu objetivo de A1C estão listados a seguir:
- Tomar as medicações indicadas pelo médico especialista de forma controlada, sejam elas medicações orais ou injeções de insulina
- Controlar o consumo de carboidratos por meio de uma dieta balanceada, preferencialmente com acompanhamento de um profissional especializado, com um/uma Nutricionista
- Testar sua glicemia diariamente, preferencialmente algumas vezes, por exemplo antes e depois das refeições e antes de dormir, para manter o controle sobre seus níveis, e saber quando agir de forma diferente do habitual. Registre os valores das medições em uma planilha, tabela, ou em algum aplicativo – eu, por exemplo, tenho usado o app mySugr e gostado bastante.
- Realizar atividades físicas de forma regular também é essencial. Ao realizar exercícios, seus músculos utilizam os carboidratos presentes no corpo, ajudando a baixar a glicemia. Converse com seu médico para verificar o tipo de exercício mais adequado, que irá variar dependendo do tipo de diabetes, sua idade, se há complicações ou outras doenças presentes, entre outros fatores.
Lembre-se: essas ações devem fazer parte de seus hábitos diários, e por toda a vida.
Referências
Posicionamento Oficial SBD, SBPC-ML, SBEM e FENAD 2017/2018. Acessível em https://www.diabetes.org.br/publico/images/banners/posicionamento-3-2.pdf.
Saudek, C.D.; Rubin, R.R.; Shump, C.S. The Johns Hopkins Guide to Diabetes. Johns Hopkins Press. 2001
All About the Hemoglobin A1C Test. Acessível em https://www.healthline.com/health/type-2-diabetes/ac1-test.